sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Adolescente morre após aborto clandestino

AGÊNCIA FOLHA - A adolescente J.S.E., 14, morreu anteontem à tarde em São Vicente (litoral sul de SP), depois de ter sido internada por causa de complicações causadas por um aborto clandestino. Na casa de uma enfermeira aposentada, para onde foi chamada a ambulância, havia material cirúrgico de uso ginecológico e lençóis sujos de sangue. Segundo a polícia, a enfermeira admitiu ter feito o aborto.
A família da adolescente mora numa rua de terra na periferia da cidade. A jovem foi levada para o Crei (Centro de Referência em Emergência e Internação), um pronto-socorro, onde foram detectados indícios de aborto.
Segundo o diretor de apoio do Crei, Fábio Alal, a menina chegou com quase um terço do sangue que deveria ter no corpo, pouco sangramento vaginal e parada cardiorrespiratória. Tinha também marcas de punção nos braços, que indicam o possível recebimento de medicação na veia.
Avisada pelo pronto-socorro, a polícia foi à casa de Aparecida Pereira, 62, para onde o resgate havia sido chamado. Ela disse ser benzedeira e enfermeira aposentada. Na casa havia material cirúrgico e remédios. "O próprio colchão do quarto, onde era o repouso da vítima, estava cheio de sangue", disse o delegado Luiz Evandro Medeiros.
Segundo a polícia, a adolescente foi levada ao local pela amiga Cristina Kelen Gonçalves, 27, que teria pago R$ 200 pelo aborto. A amiga e a enfermeira foram detidas e indiciadas por prática de aborto. A pena pode chegar a oito anos de reclusão. Segundo o delegado, a aposentada admitiu o crime. Nenhuma delas tinha advogado ainda.
A jovem teria tido um sangramento no procedimento. A mãe soube que a filha passou mal e foi à casa da enfermeira. Ao ver a filha, pediu uma ambulância, chamada pela filha da enfermeira, auxiliar de enfermagem. Ela também é suspeita de fazer abortos.
Após o enterro da adolescente, na casa da família, no Parque Bitaru, o padrasto disse à reportagem que sabiam da gravidez da menina: "Estamos muito chateados com tudo isso. Sabíamos que ela estava grávida, mas não pensávamos que ela faria uma coisa dessas", disse. A garota tinha outros quatro irmãos mais novos.
Descriminalização
Segundo Gilberta Santos Soares, coordenadora das Jornadas pelo Direito ao Aborto Seguro, organização que reúne 40 ONGs no país, o caso de J.S.E. é um "retrato ao vivo e a cores" das conseqüências dos abortos inseguros.
Ela defende a descriminalização da prática. Projeto de lei nesse sentido enviado pelo Executivo chegou à Câmara dos Deputados na última terça-feira.
No Brasil, morrem por ano mais de 2.000 mulheres por complicações na gravidez, aborto, parto ou período pós-parto. Estima-se que pelo menos 10% dessas mortes estejam relacionadas ao abortamento inseguro.


30/09/2005, www.paraiba.com.br

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